905 FM | Antonio Cícero, escritor e membro da ABL, morre aos 79 anos na Suíça
Antonio Cícero, escritor e membro da ABL, morre aos 79 anos na Suíça
23 de outubro de 2024
, Créditos:Anderson Americo Vargas
O Brasil perdeu, nesta quarta-feira (23), uma de suas grandes vozes na literatura, poesia e música. O escritor, compositor e filósofo Antonio Cícero faleceu aos 79 anos, na Suíça, onde se submeteu a um procedimento de morte assistida. O crítico literário sofria de Alzheimer, doença que, segundo ele próprio, o impedia de viver com a dignidade que sempre prezou.
Carioca, Antonio Cícero era um dos membros mais destacados da Academia Brasileira de Letras (ABL), onde ocupava a cadeira 27 desde agosto de 2017. Ao longo de sua carreira, contribuiu de forma decisiva para o cenário cultural do país, tanto na música popular quanto na literatura e na filosofia.
Na carta de despedida, o escritor explicou sua escolha de optar pela eutanásia, declarando que sua vida havia se tornado insuportável devido à progressão da doença. "Não consigo mais escrever bons poemas nem bons ensaios de filosofia. Não consigo me concentrar nem mesmo para ler, que era a coisa de que eu mais gostava no mundo", desabafou em um trecho da carta, onde também expressou seu desejo de manter a dignidade até o fim.
"Queridos amigos, encontro-me na Suíça, prestes a praticar eutanásia. O que ocorre é que minha vida se tornou insuportável", escreveu. Como ateu declarado desde a adolescência, Cícero assumiu a responsabilidade por sua decisão, reforçando que era ele quem decidia se sua vida ainda valia a pena.
Um legado de poesia, música e filosofia
Além de poeta e filósofo, Antonio Cícero é amplamente lembrado por suas contribuições à música popular brasileira. Irmão da cantora e compositora Marina Lima, ele foi coautor de sucessos que marcaram gerações. Entre as canções de sua autoria estão “Fullgás” e “Para Começar”, eternizadas na voz de Marina Lima. Ele também colaborou com nomes como Lulu Santos, para quem escreveu o célebre hit "O Último Romântico", além de parcerias com Waly Salomão, João Bosco, Orlando Morais e Adriana Calcanhotto.
A multiplicidade de sua obra refletia sua capacidade de transitar entre a filosofia, a poesia e a música com fluidez e profundidade. Sua presença na Academia Brasileira de Letras foi um reconhecimento do impacto de suas ideias e produções no cenário intelectual e cultural brasileiro.
"Espero ter vivido com dignidade e espero morrer com dignidade"
A decisão de Antonio Cícero de se submeter à eutanásia foi marcada por um profundo senso de autonomia. Em sua carta, ele afirmou que a vida, para ele, já não fazia mais sentido. Com Alzheimer em estado avançado, o escritor relatou a perda de memória e da capacidade de reconhecer amigos e pessoas queridas, o que o levou a optar pela morte assistida.
"Apesar de tudo isso, ainda estou lúcido bastante para reconhecer minha terrível situação", disse Cícero, deixando claro que sua decisão era fruto de uma reflexão profunda sobre sua própria condição.
Na carta, ele ainda expressa seu carinho pelos amigos mais próximos e seu desejo de ser lembrado pela dignidade que buscou manter ao longo da vida e na morte. "Eu os amo muito e lhes envio muitos beijos e abraços!", concluiu.
A morte de Antonio Cícero deixa um vazio no cenário cultural brasileiro, mas sua obra e suas reflexões filosóficas continuarão a ecoar por muito tempo. Suas palavras, carregadas de lirismo e profundidade, seguem vivas em sua poesia, em suas canções e em seus ensaios. Cícero se despede do mundo, mas seu legado, sem dúvida, permanece.
Com informações da Academia Brasileira de Letras e TV Globo
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